quinta-feira, 9 de julho de 2009

Tragédias Cotidianas . 01

Era noite quando ele chegou.
Abriu a porta do apartamento e entrou. Largou a mochila em qualquer lugar, tirou o tênis, livrou-se de tudo que fazia peso em seus bolsos e jogou-se no sofá.
A garrafa de vinho o aguardava, exatamente onde ele tinha deixado, assim como uma barra da chocolate ainda fechada.
Ele bebeu
Ele comeu

Em algum canto escuro da sala, acendeu-se um cigarro. Era a única luz do ambiente.
Traguei

- O que há?! - perguntei
- O de sempre...

Acendi a luz e traguei um pouco de mim.
- Não fume perto de mim.
- O que te incomoda?
- Eu
- ... - silenciei. Algumas perguntas não precisavam de som ou palavras para serem feitas.
- Nada me satisfaz... Nada me é pleno.
Ele bebeu mais
Ele comeu mais
Traguei mais
Tossi

Sumiamos a cada gole, a cada pedaço, a cada trago, a cada tosse, a cada sorriso, a cada morte.
- Você deveria parar de fumar.
- E o vinho te diz o mesmo.
- ... - ele silenciou desta vez. Como alguém que fala muito em tão pouco.
- O que há de fazer!?
- O vazio... Ele também é enchimento.

Ele não bebeu.
Ele não comeu.
Eu não fumei.

Miles tocou ao fundo.
Era noite quando ele chegou.

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